quarta-feira, 28 de julho de 2010

Poesia

A poesia é o sonho vão de quem se ilude.
Desejo condensado em palavras tão absurdas quanto ele.
Sangue de tantas cores,
Que não esconde a dor de quem derrama.

A poesia é o grito ignorado.
Revanche de tudo que se sente, e não se pode negar.
Ponto mais escuro dentro da sombra densa,
Onde até a firmeza do chão se faz distante.

A poesia é o amor que não se vive.
Êxtase sublimado de uma paz que nos escapa.
Perfume de rosas mais belas que as rosas,
Exalando pelos poros de um corpo maior que nós.

A poesia é a graça de respirar.
Prazer de ser o que se é sem medo - a dança livre.
Onde gritamos nossos ódios e rancores,
Tão honestos quanto os devaneios mais bonitos.

E ainda assim são só palavras.
Como a própria matéria bruta que nos cerca o espírito,
Pontos e sinais estranhos,
Que só de longe insinuam a beleza dos sonhos que os animam.

Eu nada crio.
Qual um mudo, balbucio.
Em termos pobres, simples, crus,
Tudo aquilo que já existe em mim.

Não sou que faço, mas a poesia é que me leva.
Qual bengala de um velho cego me conduz,
Aos tantos cantos do meu ser, meu peito, meu ódio e meu amor.
Enquanto canto o que não sei dançar, e vivo o que não sei sentir.

E ainda assim é apenas poesia.
Lágrimas de um choro seco,
Peso de uma dor imensa,
Sorriso que não cabe num rosto,
Orgasmo que não se limita à cama,
Amor maior que o coração que o sente,
E é apenas... Poesia.


Romulo Wagner de Souza
(poesia escrita em 2008)

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