sexta-feira, 30 de julho de 2010

Solidão a Dois

A solidão é peso que nos reduz,
Margens que nos estreitam em nós,
Secura que nos faz estéreis.
Sem graça, sem alento,
Sem cor, sem poesia.

Tão cruel quanto a solidão a dois,
Dos que coexistem sem se notarem,
Dos que fingem não verem, não perceberem
Que já não se pertecem, não se enxergam.
E mesmo numa mesma cama,
Habitam mundos tão distantes.

A solidão é toxina invisível,
inodora, mas amarga - anestésica.
Nos envenena sem notarmos,
Faz de nós uma outra coisa qualquer.
Diferente do que éramos,
Diferente do que somos.

A solidão nos vence pelo medo da solidão.
Nos traímos e nos vendemos por tão pouco,
Aceitando a ausência como que compensando o vazio.
Viciados e dependentes da solidão do lar,
À qual ficamos acostumados,
Achando que esta não é a mesma solidão da vida.

Faz de nós miseráveis de nós mesmos,
Avesso de tudo que fomos um dia,
Convence que somos mais fracos do que somos.
Faz do novo e do belo um tormento ainda maior,
Inertes diante das chances de sermos felizes,
Mais assustados que com a dor discreta de cada dia.

A solidão é o centro de gravidade que nos prende.
O quarto fechado que nos aprisiona, que nos tira a visão.
Ao ponto de não mais percebermos que estamos sós,
Apenas por haver um outro corpo, outra criatura cega,
Que de tempos em tempos nos toca,
No mesmo escuro sem vida e sem paixão.


Romulo Wagner de Souza
(poesia escrita hoje - 30/07/2010)

2 comentários:

  1. Romulo,

    Meu querido,

    Nos acostumamos tão facilmente com a rotina do amor e da dor. Ficamos cegos diante da vida. Como ainda podemos pensar que essa "segurança" pode ser mais consistente do que o amor, como pode crer que a solidão entre dois seres pode ser melhor do que a felicidade plena ?

    Dificil entender o ser que se aprisiona para não correr "riscos" mesmo sabendo que ali fora estão as melhores sensações do mundo e que a segurança, na verdade, está em nós mesmos !!!

    Queria entender, talvez assim fosse mais fácil lutar, mas luto no escuro contra meus próprios medos.

    O importante são os pequenos passos, curtos, porém seguros !! Talvez demore a vida inteira, talvez, dias, meses...o que fazer se em determinado momento não sabemos para onde caminhar na sala escura, melhor esperar para dar o passo certo, para avançar rumo a felicidade.

    Tenho certeza que um dia irei gargalhar sobre essa sala, notarei o quanto ela era pequena, e que as portas para a felicidades estavam diante de mim, a apenas um passo.

    Talvez eu tenha que esticar o braço com segurança e girar a maçaneta, talvez eu tenha que procurar a luz que sai pelas frestas.

    Talvez tudo isso seja uma loucura, mas quem sou eu para julgar o que é lúcido ! Bastaria apenas amar, simples assim !

    Abraços,
    Vida !

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  2. Querida Vida,
    Nossa, que inspirada!
    Parabéns pelo seu texto!

    Fico especialmente contente, por ver que você entendeu tão claramente essa minha modesta poesia, e principalmente por perceber que vc compartilha, de certa forma, da mesma opinião que eu.
    Concordo com a necessidade de passos curtos, porém seguros, mas não devemos esquecer que estes passos precisam ser constantes, frequentes. Quando estamos inertes, é necessário um esforço maior, para nos colocar em movimento, após o primemiro passo - que é sempre o mais difícil, os próximos acontecem com mais facilidade, mais naturalidade.
    Força, querida Vida! Tenho certeza que uma pessoa com a sua engeria, não levaria a vida inteira para sair dessa "sala", caso estivesse nela.
    E pois bem, acredito que o simples fato de alguém ter consciência, em qualquer nível que seja, dessas coisas todas, já sugere que o amor está presente, e como vc mesma disse "Bastaria apenas amar, simples assim", penso que já tenhamos meio caminho andado... rsrs

    Beijos,
    Romulo (Letras e Cores)

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