terça-feira, 27 de julho de 2010

Carnaval de Veneza

Danço só,
Num salão de pares já formados.
Danço com minha própria sombra.

Danço só,
E quando fico mais velho,
É minha solidão que faz aniversário.

Despido de minhas máscaras,
Nesse bloco eu desfilo nu.
Danço só.

Miserável que me tornei,
Mendigo o beijo frio, embriagado.
E nada mais aparta o vazio que já é meu.

Finda a festa,
O palco ruidoso volta a ser cômodo mudo.
O figurino agora é trapo sem vida.

O caminho de volta é escuro,
Cheio de perigos mais reais.
Caminho só...

Envergo a capa elegante,
Enquanto meu corpo é invisível em suas formas.
Caminho só.

A lua,
Agora não mais que cúmplice vulgar,
Enche de vazio e luz exausta
As ruas estreitas por onde passo.

Danço só.
Caminho só.
Em passos largos,
Em giros ébrios.
Enxergando fora o que existe dentro,
Sentindo dentro, o que se ausenta fora.

E ainda assim,
A despeito de tudo que se reclama,
Isso é apenas um momento.


Romulo Wagner de Souza
(poesia escrita em 23/05/2004)

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