sexta-feira, 23 de julho de 2010

Confesso


Por Deus, eu estou cansando,
E num tropeço, eu conheci você.
Agora cuspa-me, antes que eu fique amargo.

Eu fumaça derradeira que sai da lenha que se apaga,
Densa, mas dissipável.
Não se engasgue, apenas me viva.
Eu sou o palhaço triste,
E é assim que me conheço, e sei o que fazer.

Sou sólido, porém invisível.
Mil partículas que se dispersam no ar.
Quando líquido, eu sou viscoso, porém solúvel.
Me misturo, mas nunca mudo.

Ah, me esqueci como tentar esquecer,
E agora é loucura permanecermos assim tão próximos.
Do meu exército, sou o único ainda vivo,
E mesmo assim não sou herói.
Sou estrangeiro na terra onde nasci,
Minha herança não tem valor.

Mas eu queria ser poeta,
E então surgiu você,
Fazendo da minha tela branca e preta
Uma paleta de cores loucas.
Nasci torto, e não quis ser reto.
Eu sou - não estou maluco!

E hoje, me surpreendo e choro enquanto canto.
Sou duro como ferro,
Mas tão transponível quanto o ar.
O que me fere, não é o que toca meu corpo,
Minha dor vai mais além.

Mas ah, deixe de ouvir essas bobagens, e vá
E ao virar a esquina, há de me encontrar!
E quem sabe então,
Eu possa lhe salvar de mais um terror invisível?

Eu andei a vida toda,
Becos, esquinas,
Corredores e jardins.
E um dia eu vi você,
E me esqueci aonde eu estava indo.

Mas foi assim que eu acordei,
E vivi então.


Romulo Wagner de Souza

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